Texto: Elvécio Andrade
Site acusa promotor de descer a lenha na imprensa |
Ainda não consigo
acreditar que um promotor de justiça, pilar da defesa da democracia, representante
do Ministério Público, um dos poucos órgãos confiáveis deste país, tenha criticado
o trabalho da Polícia Militar, questionado o fato de vereadores procurarem o
judiciário para exercer o seu direito de fiscalizar o Executivo e, o que é
pior, descido a lenha no trabalho da imprensa.
Segundo notícia publicada no
site Gazeta do Norte, o autor de tais desatinos é o promotor de justiça Luciano
Sotero, de Mantena/MG. De acordo com o site, durante uma sessão de júri ele não
poupou críticas à polícia, vereadores e imprensa, numa verdadeira demonstração
de desconhecimento da própria função.
Na realidade, se o promotor
realmente agiu dessa forma, perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado. Não
tenho procuração para defender a Polícia Militar e muito menos os vereadores de
Mantena. Mas, como jornalista desde 1.983, com passagem por importantes
veículos de comunicação deste país, farei alguns esclarecimentos ao
desinformado promotor.
Até concordo com ele em
alguns pontos, já que depois da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de
garantir a qualquer cidadão o direito de ser jornalista, desmoralizando grandes
faculdades de jornalismo do país, muitos abusos foram e continuam sendo
cometidos por pessoas que nada conhecem de técnica jornalística, e usam o
veículo de comunicação para agredir as pessoas ou em interesses próprios.
Mas essa falta de
profissionalismo, essa atuação antiética que tomou conta de alguns pseudo-jornalistas
não pode ser atribuída à imprensa e nem aos jornalistas sérios. Grande parte da
culpa por essa picaretagem que tomou conta da imprensa no país inteiro cabe aos
ministros do STF, que por total ignorância e irresponsabilidade, deram
condições para que pessoas má intencionadas ocupassem espaço que antes
pertencia a jornalistas éticos, com formação prática ou acadêmica, preocupados
com o que estavam divulgando, com a responsabilidade social da informação.
O ilustre promotor, antes de
deixar extravasar seu destempero emocional, deveria analisar o papel da
imprensa na sociedade. Se assim o fizesse, descobriria que a imprensa livre de
censura é o órgão que tem por função levar à sociedade aquilo que os seus
representantes políticos decidem.
Como promotor, que é função
essencial à justiça, responsável pela defesa da ordem jurídica, ele deveria
saber que não existe democracia sem imprensa livre e não existe imprensa livre
sem democracia. A imprensa, com todos seus defeitos, ainda é o único órgão que
consegue manter o equilíbrio dos poderes, denunciando à população as negociatas
muitas vezes realizadas na calada da noite.
Sem a imprensa para
fiscalizar os poderosos, este país já teria se transformado num verdadeiro
caos. Sem a imprensa como contrapeso, a roubalheira por parte de políticos
corruptos seria ainda maior, e as arbitrariedades de nossas autoridades que se
julgam verdadeiros deuses, não teriam limites.
Deveria o ilustre promotor
fazer um estudo mais aprofundado a respeito da importância da imprensa no mundo
moderno, para evitar, no futuro, ser motivo de chacotas ao dizer asneiras de
tamanhas proporções.
Diferentemente do que
imagina o promotor de Matena/MG – e com certeza seu pensamento não encontra eco
nos demais promotores de justiça – o jornalista não é intruso, xereta ou um incômodo.
Ele é simplesmente um agente da sociedade em busca de informação. Informação
que muitas vezes tem o poder de mudar práticas nocivas à sociedade. Informação,
senhor promotor, muitas vezes utilizada pelo Ministério Público no combate aos
maus governantes.
Em sua obra “A imprensa e a
democracia”, Eugênio Bucci disse que “a imprensa livre vive da democracia e
vice-versa”. Ainda segundo o referido autor, “a imprensa livre é uma forma de
viabilizar o poder que emana do povo”.
Assim, o ilustre promotor de
Mantena deveria saber que a imprensa, por pior que seja, com todos seus
defeitos, é o poder mais importante de uma democracia, pois é o único órgão que
tem o poder de desnudar os demais poderes e até mesmo de derrubá-los caso não
funcionem de acordo com as regras.
A imprensa, senhor promotor
Luciano Sotero, é o elo entre a opinião pública e os governantes. Sem a eterna vigilância
da imprensa, certamente o senhor não teria liberdade para falar uma asneira tão
grande, e nem eu poderia assumir a autoria deste artigo, pois estaríamos todos
sob o jugo da ditadura perniciosa, que tanto mal causou e, em alguns países,
continua causando à humanidade.
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