Copa do Mundo é futilidade |
Um estudo da Consultoria Legislativa do Senado Federal concluiu que o custo da Copa do Mundo no Brasil será maior do que a soma do total investido nas últimas três edições do evento no Japão, Coréia, Alemanha e África do Sul. Além disso, se os orçamentos das obras dos estádios e de infraestrutura urbana e de transporte continuarem a ser reajustados para cima no ritmo atual, a Copa do Mundo do Brasil terminará custando mais do que todas as outras juntas.
A análise realizada pela consultoria compara as cifras investidas pelos países-sedes em todas as intervenções que levaram a rubrica de “obra da copa” pelos comitês organizadores. Segundo o consultor do Senado, Alexandre Guimarães, que ancorou seus cálculos em estudos feitos por institutos econômicos internacionais, as copas do mundo de Japão e Coréia (2.002), Alemanha (2.006) e África do Sul (2.010) consumiram juntas a bagatela de US$ 30 bilhões (US$ 16 bilhões, US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões, respectivamente), enquanto todas as copas da história juntas consumiram US$ 75 bilhões.
Para se ter uma idéia, no Brasil os gastos atuais, segundo as autoridades de governo e empreiteiras envolvidas nas obras, já somam o absurdo de US$ 40 bilhões.
A comemoração da inutilidade |
É bom esclarecer que trata-se de uma previsão conservadora, baseada no que se espera consumir de recursos em obras que, em muitos casos, ainda nem começaram. Mas os valores podem ser bem maiores, pois tais projetos costumam ser concluídos com gastos finais muitos superiores aos previstos no início da empreitada. Nos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2.007, por exemplo, o custo final foi dez vezes superior ao calculado no início das obras.
Ao que parece, as obras para a copa estão seguindo o mesmo caminho. Um exemplo são os projetos de infraestrutura de transporte em Cuiabá/MT, que estavam orçados pelo Ministério dos Esportes em R$ 488 milhões para a construção de apenas três corredores de ônibus. Entretanto, recentemente o governo matogrossense decidiu alterar os planos aprovados pelo Governo Federal, construindo, ao invés dos corredores, uma linha de veículo leve sobre trilhos, cujo orçamento inicial é de R$ 1,1 bilhão, em uma cidade de apenas 500 mil habitantes e trânsito pouco carregado.
Outro absurdo foi registrado no Rio de Janeiro, onde a reforma do Maracanã foi orçada inicialmente em R$ 700 milhões, já foi recalculada para R$ 956 milhões e essa obra só terminará em 2.012, o que significa que tais valores ainda vão mudar por mais vezes.
E tem mais. A Arena Fonte Nova, em Salvador/BA, no início de sua construção tinha um custo previsto de R$ 591 milhões. Hoje, com pouco mais de 18% da obra concluída, os cálculos estão em R$ 835 milhões. E apesar de ser uma PPP (Parceria Público-Privada), 75% do custo total será financiado por bancos de fomento estaduais e federais.
Na opinião de Alexandre Guimarães, o problema maior é que o governo brasileiro decidiu reorganizar o país todo à custa da copa. A malha ferroviária e os aeroportos necessitam de reformas e ampliações há anos e agora tudo isso será feito a toque de caixa e com prazo definido para ficar pronto, o que, na sua opinião, vai encarecer todas as obras e, com toda certeza, facilitar os desvios.
Com exceção da Copa do Japão e Coréia, ocasião em que foram construídos 20 estádios e estruturas para abrigar duas copas, uma em cada país, o evento mais caro foi na África do Sul, que torrou US$ 8 bilhões na construção de praças esportivas, trens rápidos, rodovias e aeroportos. Hoje muitas dessas obras transformaram-se em elefantes brancos.
O Brasil está seguindo o mesmo caminho, praticando o mesmo erro, que acaba se transformando na forma ideal para se gastar mais do que se deve em obras públicas necessárias. O pior é saber que no futuro, grande parte dessas obras ficarão em desuso e o dinheiro público vai para o ralo.
Sediar a Copa do Mundo foi um erro que terá reflexos negativos no futuro. Num país onde a saúde está sucateada, a educação não tem incentivos, o meio ambiente não é respeitado, a segurança é zero, os cidadãos não têm acesso aos serviços mais essenciais, as rodovias estão em petição de miséria, o saneamento básico na situação do início do século XX, com epidemias de dengue e outras doenças que já tinham sido erradicadas; gastar tanto dinheiro com futilidades como a Copa do Mundo, é desrespeitar o cidadão brasileiro. É atirar uma pá de cal sobre a cidadania já tão combalida.
Quem hoje aplaude a escolha do país para sediar um evento tão caro e sem utilidade prática, no futuro corre o risco de se maldizer e chorar lágrimas de arrependimento.
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