Propaganda da Nutrigás |
Quando o Norte do Espírito Santo andava para trás, e o Noroeste sofria, terrivelmente, com a migração em massa de sua gente para as terras incertas de Rondônia, não havia quem quisesse investir lá. As estradas eram ruins, a mão de obra desqualificada e faltava qualquer tipo de estímulo para os empresários. Era final dos anos 80 e início dos anos 90.
Ademais, toda a política de desenvolvimento econômico do Estado voltava-se, única e tão somente, para a Região Metropolitana. O interior, como um todo, sofria crescente esvaziamento econômico. Barra de São Francisco, a cidade que na época tinha Enivaldo dos Anjos como prefeito, havia acabado de sofrer um duro golpe com o Plano Cruzado II e as terras privadas estavam correndo o risco de passarem às mãos dos bancos, levadas a leilão pela Justiça.
Foi nesse ambiente que um jovem empresário paulista, começando a assumir alguns negócios da família, aceitou o desafio de instalar uma indústria que seria a âncora do projeto de industrialização, ainda que tardia, na região, numa área destinada à Vila Industrial. Assim nascia a Nutrigás, com capital privado e de financiamentos do Bandes, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo.
A instalação da Nutrigás encheu de esperanças o sofrido e trabalhador povo do Noroeste do Espírito Santo. Na medida em que a planta industrial tomava forma é como se a flor da auto-confiança se abrisse no coração de nossa gente.
O pioneirismo do empreendedor paulista causava profundo impacto social e na geração de emprego numa região onde as pessoas só conheciam o trabalho agrícola e começavam a descobrir o trabalho nas pedreiras de granito, que se lutava para que também beneficiassem a matéria-prima na região, para agregar valor e não deixassem somente buracos e pontes quebradas.
Quando entrou em operação, a Nutrigás chegou a gerar mais de 100 empregos diretos em Barra de São Francisco, sem contar os empregos indiretos em toda a região, através da distribuição do essencial Gás de Cozinha (GLP) envasado em sua planta industrial.
Quando expandiu seus negócios para a Região Metropolitana da Grande Vitória, entretanto, a empresa começou a enfrentar a pressão das empresas integrantes do Cartel do Gás, que querem monopolizar os negócios de distribuição de GLP no País.
A Nutrigás passou a ter dificuldades para abastecer sua base de envasamento porque a Petrobras, sempre se achando superior ao próprio País, negava-se a acatar até mesmo decisões judiciais relacionadas a recolhimentos de impostos – sempre eles, os tributos, a dificultar o trabalho dos empreendedores brasileiros e depois vêm reclamar da informalidade de 50% no mercado.
Apesar disso, a Nutrigás, diferentemente de muitos empreendimentos tocados com recursos do Bandes, nunca deixou de honrar seus compromissos financeiros com o banco. A Nutrigás demonstrou-se uma empresa ética e, socialmente, responsável.
Vencida a etapa da burocracia, depois de vários anos de pendengas, voltou a Nutrigás a envasar e a distribuir GLP não apenas no Noroeste do Espírito Santo, Sul da Bahia e Leste de Minas, mas cada vez mais presente na Grande Vitória, utilizando-se, para isso, de uma campanha de publicidade que massificou sua marca, além de praticar um preço altamente competitivo e de ganhar cada vez uma fatia maior do mercado.
De concorrência predatória a empresa jamais poderia ser acusada, uma vez que sua participação no mercado nacional é muito pequena. O que a empresa tem de diferente é seu compromisso com o desenvolvimento social e econômico de um Estado que, até há bem pouco tempo, era o patinho feio da Federação.
Como sempre, os órgãos de fiscalização aliam-se ao grande capital, demonstrando quem, de fato, manda nesse país. E é justamente uma empresa, totalmente, capixaba a vítima da vez.
As alegações da fiscalização da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para suspender por 15 dias as atividades da Nutrigás são estapafúrdias. A empresa sempre seguiu à risca as regras de segurança, interna e externamente, e possui certificação de qualidade total tanto pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnica) quanto pela ISO.
Por trás dessa ação predatória da ANP, patrocinada pelo conhecido Cartel do Gás, está o desejo de aniquilar as pequenas empresas locais, que não se dobram às exigências desse cartel.
Acompanho há tempos essa história. A Nutrigás nunca aceitou as imposições do cartel, não aceitou nem aceita os famigerados “acordos de preços” para prejudicar o consumidor.
Fechar a Nutrigás por que? Por não participar da quadrilha que foi pega na Operação Chama Azul da Polícia Federal? Entre os integrantes do Cartel do Gás que estão aplaudindo essa ação esdrúxula da ANP estão pessoas que estavam atrás das grades há poucos meses por conluio de preços.
E a ANP se faz de lacaia, ameaçando o emprego de centenas de pessoas e até o equilíbrio sócio-econômico não só de um município, mas de um estado inteiro que tem a presença da Nutrigás como fator de equilíbrio.
Será esse o preço que a Nutrigás tem que pagar por querer um comércio limpo e honesto com produto no real preço, acessível ao consumidor?
É assim que eles agem quando não conseguem acabar com os pequenos na concorrência direta. A Nutrigás levou para o mercado o GLP a preços jamais praticados no Estado e isso ameaça os grandes.
A captura de uma agência reguladora por um cartel para que ela sirva a seus interesses é fenômeno estudado mundialmente e, lamentavelmente, com ocorrência frequente. É preciso repensar o modelo de agências reguladoras para uma vigilância popular e legítima sobre elas.
A verdade é uma só: o Cartel do Gás se incomodou quando viu uma empresa regional superá-los na lembrança do consumidor, na última pesquisa de recall de marcas de um grande jornal do Estado. E passou a agir para impedir isso: infelizmente, contaram com a conivência da ANP, que deveria servir ao povo brasileiro e acaba servindo ao Cartel do Gás.
* José Caldas é jornalista
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